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Medo de dentista, o que fazer?

Para o dentista, o primeiro desafio é controlar o medo


Pacientes sofrem por antecipação ao visitar consultório.
Às vezes, motivos vão além das experiências com odontologia.

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Foi a primeira vez que me encontrei com Cynthia. Ela estava impecavelmente vestida num terno azul com um discreto broche no colarinho – uma mulher que claramente cuidava de si mesma. Por isso me surpreendi quando ela reclamou de mau hálito.


Ela disse que apenas queria uma limpeza dentária e veio ao meu consultório porque precisava trocar o dentista que havia freqüentado regularmente por 10 anos.


Como parte da conversa padrão com novos pacientes, fiz várias perguntas e expliquei a necessidade de uma avaliação adequada, incluindo raios-X.

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Ela foi bastante clara, segundo me recordo: “Raios-X! De jeito nenhum.”


Em 28 anos de prática geral, eu havia presenciado a gama completa de reações à cadeira do dentista. A experiência pessoal tem um grande papel. Assim como as histórias de amigos e familiares, e as piadas “eu preferiria fazer um tratamento de canal”. A internet pode fornecer conhecimento suficiente para ser perigoso, como diz o clichê, e o medo irracional que muitas vezes acompanha uma visita ao dentista dá às pessoas a motivação para serem insistentes, até mesmo desafiadoras, em relação a um tratamento que pode não ser apropriado.


Se eu faço o que eles querem, me arrisco a deixar algo passar ou tomar decisões erradas de tratamento. Se fizer o que é certo, me arrisco a perder um paciente que precisa de ajuda.


Expliquei a Cynthia minha filosofia de que, para um dentista ver um novo paciente, um exame completo e uma série de bons raios-X são a base de um bom tratamento. Disse a ela que sob os direcionamentos atuais da Associação Dental Americana, adultos saudáveis sem mostras de cáries ou fatores adicionais de risco deveriam tirar chapas a cada dois anos, e panorâmicas a cada cinco. Perguntei quando ela havia tirado raios-X dentais pela última vez.

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Ela me olhou suspeitosamente e disse, “Me lembro perfeitamente porque foi um dia antes do 11 de setembro.”


“Três anos atrás!” exclamei. “Acho que você está devendo.”


Aquilo não foi o suficiente para Cynthia. Falamos mais 15 minutos sobre raios-X – os sistemas modernos e digitais, a quantidade mínima de radiação à qual ela seria exposta, a natureza rápida e indolor da coisa toda.


“Eu só quero meus dentes limpos”, implorou ela.


Era realmente incompreensível. Aqui estava uma profissional instruída, que sabia ter um problema e não queria nem mesmo considerar o nível mais básico de tratamento.


Eu não queria perdê-la como paciente, mas não podia ceder.


Disse a ela que não podia ignorar a possibilidade de doenças ocultas. Para tratá-la, eu precisava de raios-X.


“Certo”, ela disse, finalmente. “Faça seus malditos raios-X.”


Como descobrimos, seu mau hálito era causado por cáries entre dois dentes – em tal extensão que ela precisaria de tratamento de canal em ambos os dentes além de cirurgia nas gengivas, duas obturações e duas coroas, ou teria de extrair os dentes e substituí-los por implantes.


Para muitos adultos, uma cárie dessa magnitude pode ser indolor, até que se instale uma infecção ou que os dentes estejam além da salvação. No fim, Cynthia teve os dentes extraídos e substituídos.


Foi somente após a finalização do tratamento que Cynthia me confidenciou a razão pela qual havia lutado tanto contra os raios-X. Sua mãe, disse ela, havia morrido de câncer – causado por um tratamento radioativo feito em sua infância.


Conversamos de novo sobre radiação, e a diferença entre doses de radiação diagnóstica e doses terapêuticas. No início dos anos 50, eu contei a ela, as doses eram centenas de milhares de vezes as utilizadas hoje; ainda não havia provas suficientes dos perigos da radiação.


Cynthia acabou aceitando a idéia de que os raios-X são uma ferramenta útil e segura.


E eu fui lembrado de que, numa profissão onde a apreensão é freqüentemente o ponto inicial de um relacionamento médico-paciente, o questionário padrão de pacientes nunca irá fundo o suficiente. Perguntar sobre hábitos com o fio dental não levarão a temores que apontam a eventos de 60 anos atrás. Em nossa psicologia de poltrona de dentista, esperamos eventualmente chegar a esse nível. Enquanto isso, seguimos limpando, perfurando, e insistindo nos raios-X.


Fonte: G1- Ciência e Saúde

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