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Dr. Hércules – uma lenda urbana

A obra literária Os 12 Trabalhos de Hércules, conta a história do mitológico e poderoso semi-deus Héracles ou Hércules, que num momento de descontrole emocional, matou a mulher e os filhos. Como penitência, foi obrigado a executar doze difíceis e penosas missões. A única condição imposta é que deveria cumprir a pena sem ajuda de ninguém, numa jornada solitária, contando apenas com sua força e inteligência.

A obra literária Os 12 Trabalhos de Hércules, conta a história do mitológico e poderoso semi-deus Héracles ou Hércules, que num momento de descontrole emocional, matou a mulher e os filhos.
Como penitência, foi obrigado a executar doze difíceis e penosas missões. A única condição imposta é que deveria cumprir a pena sem ajuda de ninguém, numa jornada solitária, contando apenas com sua força e inteligência.
Algo muito parecido acontece com o Dr. Hércules, um homônimo Cirurgião-Dentista e verdadeira lenda urbana no seu bairro. Trabalha sozinho. Abre e fecha seu pequeno consultório e faz tudo o que precisa ser feito ali entre esses dois atos, ou seja, varrer, recepcionar, atender telefonemas, preencher fichas, lavar e esterilizar instrumentais, receber fornecedores, efetuar pagamentos, ir a banco, cotar e comprar materiais, etc, etc, etc.
Tudo isso para poder realizar a sua verdadeira vocação: clinicar! Fazer aquelas restaurações estéticas “invisíveis” ou uma metalo-cerâmica “adaptadinha”, como ele gosta de dizer com orgulho.
– E olha: aprendi sozinho, sem ter que usar essas resinas modernosas que tem por aí e nem dar dinheiro prá esses bacanas que dão cursos que custam o olho da cara! – diz ele para mim, justificando a falta de investimento na própria capacitação, enquanto saboreia um x-tudo, especialidade da padaria onde marcamos nosso bate-papo.
– Tem que ser na hora do almoço. Só tenho 40 minutos e olhe lá! – havia me explicado dois dias atrás pelo celular.
Essa opção por trabalhar só, tem origem em algumas miragens do Dr. Hércules. Chamo de miragens algumas dessas crenças inabaláveis que todos temos e que, quando são falsas ou antiquadas, nos induz a tomar decisões equivocadas.
Perguntei-lhe qual a razão de trabalhar sem uma assistente.
– Funcionário é só despesa e dor de cabeça, Vitor. Você não acha?
– Não. Essa é uma crença comum, mas é errada, Hércules. Na ponta do lápis, um colaborador é um excelente investimento. – respondi enquanto ele me lançava um olhar incrédulo.
– Como assim? Tem salário, encargos sociais e o escambau e quem paga tudo isso? Euzinho! Sai fora!
– Acontece que todo dinheiro gasto com ele pode retornar com lucro. Claro que vai depender do grau de comprometimento dele com o seu negócio.
– Então, tá aí o problema: essa moçadinha não é comprometida – respondeu como se tivesse me dado um cheque-mate.
– Mas é você que precisa desenvolver esse comprometimento. É uma rua de mão dupla, Hércules. Vai pensando nisso, pois ter uma equipe é fundamental para o crescimento e manutenção do seu negócio. Só assim você pode produzir mais  e em menor tempo. Sem falar na diminuição do desgaste físico e emocional. Até quando você acha que vai agüentar com 40 minutos por dia para almoçar um sanduba e trabalhando 14 horas diárias? – Ele parou de mastigar o x-tudo enquanto olhava a própria barriga cultivada em cima do mocho.
– O importante prá mim sabe o que é? Dinheiro no bolso, querido! Se tenho o que tenho é porque não fico dando dinheiro prá empregado.  – disse revoltado, achando que dinheiro é sempre o argumento final.
.    – Estranho que pense assim, porque trabalhando sozinho você está na verdade perdendo muito, mas muito dinheiro.
– Como assim? – perguntou perplexo.
– Porque você gasta tempo executando tarefas que poderiam ser feitas por qualquer pessoa ao invés de dedicar-se ao que só você pode fazer: os tratamentos dos seus pacientes. Uma boa auxiliar pode duplicar sua receita simplesmente te liberando para fazer aquilo que realmente gera receitas: a nobre prática da Ciência e Arte da Odontologia. Veja o caso desta padaria: se o padeiro, além de fazer o pão, tivesse que limpar, atender os fregueses e receber fornecedores e fiscais, a padaria seria um negócio viável?
Tomou um gole direto na garrafa de 600 ml de Coca-Cola enquanto olhava a equipe da padaria atendendo os clientes atrás do balcão.
– Sabe o que é Vitor? O paciente fica constrangido com uma auxiliar andando de lá prá cá. Consultório não é padaria e eu não sou padeiro. Meu negócio é uma coisa mais pessoal e intima. Aí é que a coisa pega! Prefiro ficar só. O que você acha?  – respondeu finalmente, revelando outra de suas crenças limitadoras.
– Acho que depende. – respondi lacônico.
– Depende do quê?
– Depende da postura profissional do dentista e da auxiliar. Se o consultório tiver aquele jeitão de salão de cabeleireiro ou de boteco pode ser, mas aí o problema é do ambiente e não da presença da auxiliar. O único profissional que tem que trabalhar sozinho é o Psicólogo e que também não é padeiro. – respondi provocando.
Ele ficou quieto e mordeu mais um naco do sanduiche enquanto olhava as pernas da moça que pagava a compra no caixa. Fiquei pensando que o Dr. Hércules, na verdade, tinha medo que os seus segredos fossem conhecidos e revelados e não os dos seus pacientes.
Terminou seu sanduiche, limpou a boca num guardanapo, pediu um café e soltou:
– Esse seu papo de consultor é muito bonito, mas meu avô dizia uma coisa que prá mim é lei: se você quer algo bem feito, faça você mesmo.  – me disse certeiro achando que liquidara a fatura de uma vez só. Acho que, de todas, essa é a miragem mais cruel e empobrecedora.  Pressupõem que as pessoas são preguiçosas, incompetentes, não confiáveis e pior: incorrigíveis.
– Ou seja, é melhor trabalhar sozinho ou, até mesmo, viver sozinho, certo Hercules? – questionei a lenda urbana.
– Só confio em mim – disse ele enquanto o balconista servia o café.
– Que bom que os donos desta padaria e de quaisquer outros negócios dos quais você é cliente não pensam que nem você, senão eles não existiriam. Estamos vivendo na Era do Conhecimento e nela as palavras de ordem são interdependência, parcerias, rede de relacionamento, trabalho em equipe e colaboração. Hércules, as palavras de seu avô já não traduzem a realidade das relações humanas no século 21, com todo respeito.
– Sei não Vitor, sei não. Acho bacana essa conversa, mas eu só acredito vendo entendeu? E eu ainda não vi.
– Então, vou te fazer uma proposta.
– Mande. – disse curioso.
– Mude a sua crença: acredite primeiro para ver depois.
– Como assim?
– Contrate uma auxiliar e faça uma nova experiência tentando enxergá-la como alguém confiável e competente. – disse eu finalizando a proposta.
Ele não respondeu. Balançou a cabeça como quem está em dúvida, pediu desculpas e me disse, meio constrangido, que precisava ir, pois seu paciente ia chegar e precisava arrumar as coisas.
Ficou de me ligar na próxima semana, mas não ligou. Passado alguns meses recebi um telefonema. A voz era de uma moça.
– Dr. Vitor, é a secretária do Dr. Hércules. Ele quer marcar uma reunião para o senhor conhecer o novo consultório.
Fiquei feliz. Ele havia tirado a venda dos olhos e estava descobrindo que a profissão não era um beco solitário e sem saída, mas sim um campo aberto cheio de possibilidades e de solidariedade.

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Vitor Ribeiro

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